Filho da luz

Encontrei um menino na calçada,

Perguntei se tudo estava bem,

Respondeu-me com olhar profundo,

Mais feliz do que eu não tem,

Pés descalços, olhar comovedor,

Semblante repleto de luz,

Falou-me bem alto, com todo fervor,

Eu também sou filho da luz,

Levantou seu rostinho cansado,

Franzino de pele manchada,

Marcas de seu triste passado,

Vivendo com pouco ou nada,

Então perguntei pro meu ego,

Porque fui tão egoísta? 
Tanto tempo vivi como cego,

Vivendo com medo da vida,

Medo de perder meu lugar,

Do futuro que nunca chegou,

Medo de não poder suportar,

As dores que o mundo reservou,

E aquele pobre rebento,

Perdido com destino incerto,

Em busca só de alimento,

Sem brinquedos, só, encoberto,

Trazendo consigo esperança,

Vivendo das coisas que ganha,

Um feliz coração de criança,

Num mundo de tanta ganância,